sábado, 14 de junho de 2008

Fim dos Tempos: e da criatividade

Eu já estava duvidando que chegaria o dia em que falaria mal de M. Night Shyamalan, o gênio por trás de Sexto Sentido, A Vila, Sinais e Corpo Fechado. O cara acertou tanto escrevendo e dirigindo seus próprios filmes que uma hora ele tinha de errar. Convenhamos, ele tem o direito.

Seu mais novo filme, Fim dos Tempos, estreou ontem, em uma sexta-feira 13. Segundo o próprio criador, é sua produção mais assustadora, a que fará “seus críticos saírem do cinema como garotinhas histéricas”. Sinto, Night, mas vou ter de discordar.

Fim dos Tempos é, até certo ponto, perturbador, com algumas cenas chocantes distribuídas pelo longa e um grande susto no meio (uma de suas assinaturas). Mas o filme não tem velocidade, como se faltasse alguns elos na corrente motriz da máquina. A impressão é de que se ele enxugasse o filme e fizesse um curta (tal como aqueles do Creepshow ou Além da Imaginação), ficaria perfeito.

Em entrevista antes do lançamento, Shyamalan disse ser obcecado por filmes apocalípticos. "Eu sempre fui loucos por três filmes:'Vampiros de Almas' (1956), 'A Noite dos Mortos-Vivos' (1968) e 'Os Pássaros' (1963). Estes três filmes estão constantemente na minha mente, por isso escrevi o meu".

O sonho de fazer um filme assim, como Extermínio, Eu Sou a Lenda e Invasores de Corpos, deve ser movido por muitos. Eu mesmo já escrevi um livro apocalíptico. Mas entre o querer e o poder existe uma distância monumental.

Em todos os seus longas, Shyamalan construiu a obra em torno de um personagem que muito o interessava, ou um grupo, como um menino que vê fantasmas ou a família de um padre que enfrenta uma invasão alienígena . “Com esse foi o contrário. Tudo veio na minha cabeça de uma vez, enquanto dirigia e olhava para o céu carregado”, revelou o diretor. Talvez, por isso (ter fugido de sua linha criativa), o indiano acabou fazendo seu filme menos interessante. Não, ele não perdeu a mão, como dizem os críticos. A saraivada de críticas negativas veio após o lançamento de A Dama da Água, uma fábula pouco compreendida.

Odeio decepcionar as pessoas, principalmente em se tratando de um diretor que chama tanta atenção. Mas Fim dos Tempos é um filme que pode ser visto em casa. Não vale tanto assim para gastar 18 ou 36 reais para ver na tela grande.

Shyamalan teve uma baita chance de fazer um filme mais corrido, desesperador, perturbador mesmo. Como em Sinais, onde sentimos a angústia dos personagens, inteiramente acuados. Infelizmente, seu lançamento tem longas pausas e apresenta a falta de uma trama paralela. Os atores (Mark Wahlberg, Zooey Deschanel e John Leguizamo) desempenham bem seus papéis, mas eles não sustentam os erros cometidos pelo diretor/escritor.

Em tempo: não perco a fé, pois ainda acho Shyamalan o mais talentoso criador da nova geração. Então, sento em minha poltrona e aguardo pacientemente seu próximo lançamento. Ninguém consegue fazer cinco filmes maravilhosos em seqüência para depois sumir.

Vale a pena?
Olha... Sinto-me em uma posição complicada. Ao mesmo tempo quero dizer que vale, pois é um filme de Shyamalan. Mas o capetinha no meu ombro também pede para alertar: se for, não espere outra obra prima do indiano.

Nota
6,5 – mesmo não sendo uma grande obra, ainda assim é um filme apocalíptico, como O Nevoeiro. Então não tem como dar menos que isso. E mais, as cenas chocantes renderam ao filme a classificação indicativa de +17 anos nos Estados Unidos (são poucos os que são taxados com essa “censura”).

Luciano Marques

2 comentários:

Claudio Fernandes disse...

Engraçado você falar de "Os Pássaros" na crítica. Em vários momentos, durante "Fim dos Tempos", lembrei do clássico de Hitchcock. Pareceu-me que Shyamalan quis homenagear esta obra do mestre do suspense (não li nada a respeito, então não sei se ele de fato teve esta intenção). Mas Hitch merecia homenagem melhor.

O começo de "Fim dos Tempos" até empolga, e muito, com os suicídios em massa. Me fez lembrar das aulas de história, quando estudamos a Grande Depressão, de 1929, e os livros indicavam que algo parecido aconteceu após a quebra da Bolsa de Nova York. Mas meio que pára por aí. Fora um ou outro bom momento durante o longa, a gente passa a maior parte do tempo esperando alguma surpresa que não vem. Nem mesmo no final.

É melhor assistir a "O Nevoeiro", este sim um legítimo Shyamalan, embora não tenha sido dirigido por ele.

Freddy Charlson disse...

não adianta tentar me demover da ideia de ver fim dos tempos, senhores. humpf. ainda dou crédito ao indiano.