quarta-feira, 28 de maio de 2008

Antes de partir: pense

Sou fã confesso de Jack Nicholson e Morgan Freeman, mas meus elogios ao filme Antes de Partir (The Bucket List) não diz respeito apenas aos dois – que acertam em quase tudo o que fazem. O filme dirigido pelo cineasta e ator Rob Reiner é uma comédia dramática que dificilmente encontramos. É aquele tipo de produção que nos faz refletir sobre a vida e no qual o final já está praticamente anunciado, mas o roteirista Justin Zackham foge de todos os clichês e nos apresenta uma história apaixonante e acima de qualquer suspeita.

Edward e Carter são dois velhos completamente diferentes que acabam se cruzando em um destino similar. E o caminho percorrido é carregado de emoção, humor e desejos desenfreados.

Não preciso comentar sobre as atuações dos protagonistas, pois ambos já chegaram a um nível em que a excelência praticamente aparece no automático. Mas a química entre os dois monstros sagrados é perfeita – e isso nunca é garantido, nem mesmo na mão de um bom diretor.

Rob, autor de boas obras como Conta Comigo, Louca Obsessão e Harry e Sally, conseguiu mais um longa que vai ficar marcado na minha memória. A trama se aprofunda na relação dos dois protagonistas e ainda, de quebra, se ramifica em sub-tramas interessantes, como a do faz-tudo do rico e a esposa do pobre.

Vai parecer piegas, mas o filme, daqueles que você pede para não acabar, te faz pensar na vida. Menos mal que o faz de maneira inteligente.

Vale a pena?
Assista assim que puder. Primeiro porque não deve perder nunca um filme de Morgan e Nicholson. Segundo porque é bom e duvido que alguém fale mal deste longa.

Nota
7,5 - além das boas atuações, direção e roteiro, Antes de Partir ainda é aquele filme que mocinhas e machões vão curtir. Feito para a lugar e não se arrepender.

Luciano Marques

terça-feira, 27 de maio de 2008

O Nevoeiro: surpresa na fumaça

Infelizmente o filme O Nevoeiro foi direto para as locadoras. O longa é do diretor Frank Darabont, que está se especializando em adaptar bons livros do Stephen King para a telona, sem prejuízos para com o original literário. Ele foi o cineasta responsável por À Espera de Um Milagre (The Green Mile – 1999), então, sem comentários.

O Nevoeiro é baseado no livro The Mist. Se você é daqueles que prefere ler a obra primeiro, faça isso, pois o livro é simplesmente sensacional. Se não vai se dar ao trabalho, curta o filme que já está de bom tamanho.

Sem contar com atores de peso, O Nevoeiro é um filme de terror e suspense que surpreende. Primeiro porque parte de uma trama claustrofóbica para um desenlace surpreendente. O nevoeiro, definitivamente, esconde o grande mote criado por Stephen King. Segundo porque tem uma trama bem encadeada e te carrega facilmente até o fim – não é aquele tipo de filme que você consegue pausar para assistir mais tarde.

Pelo amor de Deus, não confunda com A Névoa (The Fog), uma porcaria que nem deveria ocupar espaço nas prateleiras das locadoras.

Já estou esperando outras adaptações do mestre do terror pelas mãos de Darabont
Ah, esqueci de falar da sinopse? Nem preciso. Aliás, não devo. Assista sem medo (ou com muito medo, dependendo do ponto de vista).

Vale a Pena?
Com certeza, mas para aqueles que gostam do cinema de escapismo, fantástico. Não espere terror pra valer: King aposta sempre no suspense. Não é um clássico como Cemitério Maldito ou It, mas diverte pra caramba.

Nota
7 – não espere menos que isso por uma boa adaptação de Stephen King. Sou suspeito para falar, também.

Luciano Marques

Morre Sydney Pollack

O diretor, ator e produtor Sydney Pollack Lafayette se despediu ontem do mundo da sétima arte. O cineasta norte-americano brilhou em dois momentos na carreira: Tootsie e Entre Dois Amores. O primeiro, de 1982, deu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Jéssica Lange (além de outras sete indicações: filme, ator – Dustin Hoffman impagável –, diretor, edição, canção, som e roteiro). O segundo também fez sucesso na maior festa do cinema três anos depois, vencendo como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Direção de Arte e Melhor Som (e mais as indicações de Melhor Ator Coadjuvante para Klaus Maria Brandauer, Melhor Atriz para Meryl Streep, Melhor Figurino e Melhor Edição.

Se ainda não viu esses clássicos, corra. São da época em que os melhores eram realmente premiados no Oscar (e os concorrentes eram sensacionais).

Seu ator preferido era Robert Redford. Ele fez nada menos que sete filmes de Pollack: Esta Mulher é Proibida (1966), Mais Forte que a Vingança (1972), Nosso Amor de Ontem (1973), O Cavaleiro Elétrico (1979), Entre Dois Amores (1985) e Havana (1990).

Pollack ainda fez algo que me deixava feliz todas as madrugadas e poucos sabem: dirigiu vários episódios da série de TV The Alfred Hitchcock Hour – na Globo, o programa passava após o Jornal da Globo.

Outros filmes de sua filmografia também valem a pena, como Três dias de Condor e Sabrina (para quem perdeu uma das 89 reprises da Sessão da Tarde).

Pollack morreu de câncer aos 73 anos, após dez anos de luta, em sua casa de Pacific Palisades, distrito de Los Angeles, Califórnia.

Luciano Marques

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Indiana Jones 4: só para fãs

A expectativa pela quarta aventura de um dos ícones dos anos 80 no cinema foi enorme. E o filme não decepciona. Não enche os olhos também. O que se vê em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é uma homenagem aos personagens de toda a saga e um presente aos fãs da trilogia.

Aos que não acompanharam o desenvolvimento do arqueólogo – leia-se os mais jovens –, O Reino da Caveira de Cristal não passa de um bom filme de ação. Aos que estavam saudosos da criação de George Lucas e Steven Spielberg, a quarta aventura de Indy vale a pena. Primeiro porque Harrison Ford provou que podia encarnar mais uma vez o personagem, mesmo aos 65 anos. Segundo porque as referências aos outros três longas são ótimas. Há também referências a filmes importantes da história cinematográfica, como Contatos Imediatos do 3º Grau, Tarzan e Alien.

A linha de Caçadores da Arca Perdida, Tempo da Perdição e A Última Cruzada é mantida. Se nos anteriores os personagens esbarraram com bichos peçonhentos (cobras, insetos e ratos, respectivamente), em O Reino da Caveira de Cristal não é diferente. Não comento qual é o da vez porque odeio críticos que entregam boas cenas das produções.

Falta, no entanto, ritmo e armadilhas à nova trama. O filme demora a embalar, mas quando alcança a velocidade indianesca não decepciona. Há boas cenas de ação e humor na medida certa. As arapucas, ciladas e emboscadas, tão íntimas de Jones, infelizmente são escassas neste filme. O mistério desvendado também não é lá grande coisa. Velho, Indiana parece impaciente na história e se “apressa” nas descobertas, como se não tivesse mais saco para degustar o tesouro achado.
Talvez o problema do filme seja o tempo. Hoje, temos um background cinematográfico amplo. Já cansamos de assistir filmes sensacionais, então é difícil algo nos surpreender hoje em dia no cinema. Se O Reino da Caveira de Cristal tivesse sido lançado no início da década de 90, talvez fosse um dos melhores da série. Atualmente, no entanto, todos que o assistem lembram rapidamente de filmes melhores, pois as comparações são inevitáveis.

E mesmo com tanta coisa boa e ruim reunida em uma crítica, ainda assim acredito que o produto deve ser assistido. No cinema, não é difícil você se flagrar apontando para as sutilezas do roteiro ou cantarolando o inesquecível tema. Então, vale sim ver mais uma vez Indy. Dê os descontos necessários e tudo sai bem.

Vale a pena?
Sem dúvida. Mas não entre no cinema achando que este vai ser o melhor da série. Se é fã da trilogia, é obrigatório. Se nunca assistiu aos outros, pegue na locadora, assista, e só então vá ver a quarta aventura.

Nota
7,5 – difícil um filme de Spielberg e Lucas receber menos que 7. Para ganhar mais que 8, porém, tinha de surpreender em algo (roteiro, atuação, fotografia, etc).


Luciano Marques

Bee Movie – deixe a abelha passar

O nível das animações caiu assustadoramente. Talvez porque Pixar, Dream Works e demais tenham de fazer um filme atrás do outro, sem parar, pois cada um deles demora anos para ficar pronto. Bee Movie é um exemplo claro de que são vários os cactos e raras as orquídeas neste mundo computadorizado da sétima arte.
O comediante Jerry Seinfield dubla a abelha Barry, mas nem mesmo suas gags salvam a produção – muitas são sem graça, aliás. Renée Zellweger (Diário de Bridget Jones) faz a voz da humana Vanessa Bloome e se sente pouco à vontade em sua estréia.
A história não traz nada de novo e tem um final um tanto quanto forçado.
A viagem dos polinizadores sobre a praça vale ser destacada. Talvez a única a ser lembrada em Bee.
O melhor do filme foi feito antes: o trailler que foi veiculado nos Estados Unidos. Nele, Seinfield tenta fazer Bee na vida real, fantasiado de abelha. Como não dá certo, Steven Spielberg aparece e pergunta por que ele não faz uma animação. O vídeo pode ser assistido no site: http://www.beemovie.com/ (vá em vídeos e veja trailler one e trailler two).

Vale a pena?
Se você está sentado esperando um novo Toy Story, um novo Monstros AS, assista Bee, só para passar o tempo. Melhor uma animação meia-boca que nada.

Nota
6,5 - fãs do Seinfield, de abelhas ou de animações de qualquer tipo vão gostar. Os demais vão assistir, se divertir bem, mas bem de leve mesmo e esquecer no dia seguinte.



Luciano Marques

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Quebrando a Banca – chicken dinner

São raros os filmes com jogo de baralho que dão realmente certo. Maverick (Richard Donner), com Mel Gibson, e Cartas na Mesa (John Dahl), estrelado por Edward Norton – ambos de pôquer, são bons exemplos. Quebrando a Banca, dirigido por Robert Luketic, é justo e sóbrio. Não se restringe apenas ao jogo e tem como foi condutor os anseios de um jovem que se descobre.
Ao invés do Pôquer, que também vemos em 007 Cassino Royale (2006) e Cassino (1995), Quebrando a Banca foca o Blackjack, ou 21. Contudo, não há no longa uma grande final ou partida, onde torcemos para o protagonista tirar a última mão de sorte que vencerá o campeonato. A trama, nesse ponto, é mais densa.
O personagem principal é Ben Campbell, interpretado por Jim Surgess, de Across the Universe. Ele não compromete. Kevin Spacey, que encarna o mentor Micky Rosa, nem fede nem cheira. O único que realmente se destaca é Laurence Fishburn (Matrix), que vive Cole Williams.
Quebrando a banca não chega a ser uma Sessão da Tarde, mas está longe de ser inesquecível. Tem um enredo evolutivo bom, não óbvio, e comédia na dose certa. No entanto, só prova que ainda está para surgir algo que rivalize com os dois filmes citados no início.

Vale a pena?
O filme é daqueles onde um nerd acaba se dando bem, mas a história é contada sem subestimar o espectador. Vale assistir, mas se ele passar novamente na TV, garanto que muda de canal para ver coisa nova ou até mesmo rever uma produção mais bacana.

Nota
6,5 - poderia ser melhor se Robert Luketic ousasse um pouco mais, seja na fotografia, na velocidade do longa ou até mesmo na própria história.



Luciano Marques

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Speed Racer – uma geração esquecida


Ultimamente tenho esperado com grande ansiedade alguns filmes – contrariando uma regra que tenho (quanto maior a expectativa, maior a chance de se decepcionar). Com o primeiro filme do Speed Racer, concebido e dirigido pelos irmãos Wachowski, não foi diferente. A desilusão, no entanto, foi enorme.
Andy e Larry Wachowski são fãs de quadrinhos e desenhos animados, e cineastas excepcionais. Sabem o que fazem, vide a série Matrix e V de Vingança. E eu apostava todas as minhas fichas que eles acertariam na adaptação do desenho animado do Mach 5. Não tinha como dar errado. Mas deu.
Speed Racer encantou toda uma geração na década de 80 e este filme era exclusivamente para ela. Ou seja, para os que têm, no mínimo, 28 anos. Não sei se os irmãos norte-americanos dobraram os joelhos para as exigências dos produtores, mas o fato é que o produto final mais parece um videogame que qualquer outra coisa. O visual é futurista demais, a comédia peca pelo excesso e muita coisa não se assemelha ao desenho criado por Tatsuo Yoshida nos anos 60. Se os Wachowski queriam agradar também aos mais novos, que nunca viram Speed em uma TV sem controle remoto, erraram feio. Respeitar o público-alvo é fundamental em uma adaptação. Seria o mesmo que fazer um filme de Jeannie é um Gênio para os adolescentes de hoje – trocando a garrafa (lâmpada) por um computador ou dispositivo Pokemon.
Uma adaptação mais realista, sem aqueles cenários gerados por computador, cairia melhor. Um roteiro mais adulto, idem. Os únicos detalhes que escapam são os atores (bem selecionados) e a corrida no meio do longa, que apresenta uma certa emoção. Tirando isso, sobra a pior obra dos Wachowski, que até aqui tinha acertado a mão em tudo o que dirigiam.
Rancor demais para com o filme? Não... Sou fã do personagem e não perdia um episódio. Lembro-me da descoberta sobre o irmão, bombástica na época. E até isso estragaram no filme.

Vale a pena?
Só para a Sessão da Tarde. Não gastaria nem meia entrada para assistir esse filme

Nota (0 a 10)
3 – ver em live action um personagem tão querido é bom, mas a decepção do conjunto da obra é enorme


Luciano Marques


Chega de crítica que não acrescenta

Olá, cinéfilos!
Fui crítico de cinema em dois jornais e sempre achei os críticos de cinema equivocados. Cinco estrelas para filmes horríveis e uma estrela para filmes hollywoodianos até bem divertidos de assistir. Foi por isso que criei esse blog. Para falar realmente o que o filme levou à tela. Vou falar aqui de filmes que estão para sair no cinema (como jornalista, assisto prévias em sessões especiais), estréias e filmes antigos (muitas são as pérolas esquecidas e que você ainda pode não ter visto).
E como não sou dono da verdade, todas as críticas podem ser feitas, afinal, nada como conversar sobre cinema.

Luciano Marques