Wall-E é um filme singular. Perfeito do início ao fim. E só por ter um enredo único, inigualável, já merece aplausos. A trama conta a história de uma Terra abandonada que é cuidada por um “robô sucateiro”. Os humanos a abandonaram há muito tempo, quando o planeta se viu assolado pelo lixo. Tudo muda quando o único (e não me refiro apenas à unidade matemática) ganha ainda mais sentido em sua via. Dizer mais que isso apenas entregaria o rumo da bela história criada e dirigida por Andrew Stanton (que esteve envolvido de alguma maneira em todos os filmes citados acima).
Mas não é só isso. Wall-E não é apenas um baita roteiro. A animação nem precisa de comentários porque já alcançamos a excelência e vai demorar para darmos um salto de evolução nesse formato. Mas o protagonista merece um imenso destaque. A ingenuidade do robozinho Wall-E é cativante. Cativante como poucos personagens o foram na história do cinema. Como Charle Chaplin em O Garoto. A criação de Stanton vai vender milhões de brinquedos e será lembrada na memória e na estante de muito marmanjo daqui a algumas décadas. Como ET.
Embora eu adore a fantasia, fiquei feliz por saber que o “animal” de estimação de Wall-E não foi estilizado. É apenas um inseto e não mais que isso. Não precisa, não merecia ser mais que isso. É perfeito. Aliás, a busca pela perfeição, pelo real, pelo cotidiano é mais um detalhe digno de destaque. O filme é, inclusive, o primeiro da Pixar que traz consigo uma mensagem: a preocupação com o meio ambiente.
Outra peculiaridade perfeita é a quase ausência de diálogos. Lembrou-me Alfred Hitchcock. O mestre do suspense começou sua carreira no cinema mudo e costumava dizer que poucos diretores sabiam o que fazer com o recurso do diálogo. Disparava, acusando que os mesmos costumavam fazer “fotografias falando”. Ele também era um mestre no diálogo, então sabia o que estava dizendo. Em Wall-E, Stanton prova a tese de Hitchcock: se é possível explicar algo sem diálogos, porque inserir falas? O resultado é uma fantasia cheia de imagens e significados, detalhes que tornam o filme ainda mais inesquecível.
Olhos
A quem ainda não assistiu ou pretende assistir de novo: prestem atenção nos olhos de Wall-E. A Pixar tem uma preocupação especial com os olhos de seus personagens. E talvez esteja aí o segredo de tantas figuras terem se imortalizado em nossa memória. Lembre-se de Procurando Nemo. Recorde-se de Vida de Inseto. Você sempre vai achar pares de olhos que dizem muito. Correção, que dizem tudo. Sem medo de cair no velho chavão, é por meio dos olhos que os filmes da Pixar ganham alma. Janelas que nos oferecem uma viagem ao incrível e inimaginável.
Vale a pena?
O que está esperando? Se leu tudo isso e ainda duvida, vá ao cinema. Não deixe para ver em vídeo. Aliás, veja na grande tela, pois você vai assistir outras tantas vezes em DVD.
Nota
10 – não há um único defeito em Wall-E. Até mesmo os clichês te surpreendem. Lúdico, lírico, encantador e emocionante.
Luciano Marques
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